Na semana passada, o blog Milk Point de Portugal publicou o resultado de uma enquete com produtores de leite daquele país. A pergunta era simples: qual será o seu principal investimento em 2017? Entre as opções de resposta estavam alimentação, instalações, reprodução, pessoal e área/terrenos. Como resultado, 31% dos participantes apontaram as instalações como principal destino dos investimentos deste ano. Em segundo lugar, com 19%, estava a reprodução.
Embora o contexto do mercado português seja diferente do brasileiro, acredito que se fizéssemos a mesma pergunta por aqui a resposta seria muito parecida. A ideia de modernizar as instalações, adquirindo equipamentos e infraestrutura de ponta, é sempre sedutora. Porém, na prática, sabemos que apenas esse investimento não basta para colocar a fazenda no caminho do sucesso. De que adiantam instalações modernas, caríssimas, se não temos boas práticas de gestão consolidadas na fazenda?
Para tornar a produção de leite um negócio cada vez mais rentável, é preciso que os produtores transformem a evolução da gestão em uma prioridade das fazendas, inclusive no que diz respeito aos investimentos planejados. Além da melhoria contínua do fluxo de trabalho, que amplia a produtividade, uma gestão bem estruturada permite, entre outros benefícios, identificar as reais necessidades de investimento.
Isso significa que, ao desenvolver a mentalidade gerencial, o produtor começa a questionar o impacto de cada centavo investido na produção. Será mesmo que você precisa de uma ordenhadeira de última geração para ter mais leite no tanque? Às vezes, um investimento muito menor, focado no treinamento e no engajamento dos empregados, por exemplo, tem potencial para gerar resultados produtivos bem mais expressivos.
Não à toa, as fazendas de maior sucesso no Brasil — e provavelmente também em Portugal e em qualquer outro país — são aquelas que encaram sistemas e práticas de gestão como um investimento tão ou mais importante que qualquer outro. Afinal, ao contrário de muitos destinos que os recursos podem ter, a gestão tem retorno garantido.
Artigo criado pelo Prof. Dr. Paulo Machado, Diretor da Clínica do Leite e professor da Esalq/USP. Titular em Bovinocultura de Leite, com 43 anos de experiência em gestão de fazendas.